A notícia de que dois blocos carnavalescos de Barreiras, Kimarrei e Beijou Pegou, decidiram suspender suas atividades durante o período momesco deste ano surpreendeu os clientes das referidas empresas de espetáculos.
Segundo avalia Virgulino Lima Pinto, popular Gulla, proprietário do Kimarrei, em reportagem do jornal Nova Fronteira, o modelo atual da festa na maior cidade da região Oeste está ultrapassado. “Precisamos criar um novo modelo”, disse.
Tem razão o comerciante, porque o formato atual defendido por ele segrega, exclui da festa popular aqueles que não podem pagar pelo ingresso (camiseta), mas que de fato custeia o evento, pois o erário é quem banca parte significativa do entrudo.
O carnavalesco advoga que temos de reproduzir por aqui um padrão Bahia, porque “já é uma tendência no carnaval de Salvador a criação de camarotes”, e diz ainda que os donos de blocos estão “cansados de bancar essa festa nos cinco dias”.
Ora bolas, conte outra! Se os blocos tivessem caixa para realizar a festa, então porque no ano passado não teve carnaval? Respondo: porque a prefeitura de Barreiras decidiu não pagar a conta, que este ano custará, segundo a municipalidade, R$ 3 milhões – pago, claro, com os impostos cobrados da população.
Os empresários do ramo – da elite representada pelo Kimarrei até o periférico Beijou Pegou – se queixam de uma boate luxuosa montada no circuito Aguinaldo Pereira como o principal motivo para queda nas vendas de seus produtos. Se o argumento é tão somente este, os investidores dos blocos comerciais também precisam ser reciclados.
É preciso atentar para duas grandes e importantes mudanças sofridas pelo carnaval de Barreiras nos últimos 20 anos. Em 1997, na primeira gestão do prefeito Antonio Henrique, o circuito foi deslocado do centro histórico para as três avenidas do centro comercial da cidade, propiciando assim a industrialização do carnaval. Agora, o processo tem acontecido inversamente.
Em 2009, durante o governo da prefeita Jusmari Terezinha, por iniciativa da barreirense e vice-prefeita Regina Figueiredo, a folia tradicional às margens do rio Grande foi retomada. Desde então o centro histórico tem reunido, ano após ano, um número maior de blocos culturais e foliões, ávidos consumidores da festa mais popular do planeta.
A configuração empresarial do evento, uma cópia fiel do apartheid social evidente no carnaval de Salvador, alcançou em Barreiras seu apogeu na primeira década do novo milênio, agora, com a retomada das origens da festa, a comercialização do patrimônio imaterial da cultura brasileira entra em estágio de decadência.
Os milhões gastos pelos governos municipal e estadual com cantores descartáveis – com suas músicas de qualidade questionável e de apelo explícito à sexualidade feminina –, somada as estruturas móveis caras, de ostentação e divisoras de classes no carnaval, têm que servir à cultura, à informação, à alegria e, sobretudo, a quem de fato paga a conta, o povo!
Que venha o Bloco da Rôla, Netos de Momo, Causauê, Nega Maluca e tantos outros grupos carnavalescos de rua. “Ó abre alas que eu quero passar, ó abre alas que eu quero passar, eu sou da Lira, não posso negar, eu sou da Lira, não posso negar...”
www.fernandopop.com - Por Fernando Machado
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