ÉRICA FRAGA
MARIANA BARBOSA
DE SÃO PAULO
MARIANA BARBOSA
DE SÃO PAULO
A empregada doméstica Marli Venceslau da Silva, 37, abandonou o recém-adquirido hábito de viajar de avião para visitar a família em Pernambuco, vai tirar a filha de seis anos da escola particular e acaba de renegociar uma dívida no cartão de crédito.
"A passagem está um absurdo. Não tem jeito, a viagem é demorada, mas vou voltar para o busão", diz ela, que vive em São Paulo.
A história de Marli é parecida com a de um número crescente de famílias brasileiras que têm feito ajuste orçamentário para enfrentar a alta de preços e o menor crescimento, em um contexto de maior endividamento.
Dados da FecomercioSP obtidos com exclusividade pela Folha mostram que a inflação está alta para todas as classes sociais. Nos 12 meses encerrados em setembro, o custo de vida em São Paulo aumentou entre 5,5% e 5,65% para cinco faixas de renda.
A tendência é explicada por uma alta disseminada de preços. Nenhuma das nove categorias de bens e serviços pesquisadas para as cinco classes sociais teve deflação em setembro.
"O preço de tudo tem subido para todo mundo", afirma Júlia Ximenes, assessora econômica da Fecomercio.
"O preço de tudo tem subido para todo mundo", afirma Júlia Ximenes, assessora econômica da Fecomercio.
Embora a inflação esteja igualmente elevada para todos, os consumidores de renda menor têm menos sobra orçamentária e são os mais afetados. "Os mais pobres têm menos defesas contra a inflação, como aplicações financeiras", diz André Braz, economista da FGV-Rio.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
RENEGOCIAÇÃO
Para se proteger do contexto econômico mais adverso, os brasileiros cortam gastos e renegociam dívidas.
Estatísticas mostram que as viagens de avião, por exemplo, perderam fôlego, enquanto a busca por passagens de ônibus aumentou.
Outra saída para reequilibrar o orçamento tem sido a renegociação de dívidas contraídas nos anos de bonança.
O volume de financiamentos a pessoas físicas que foram renegociados aumentou 42% entre dezembro de 2011 e setembro passado.
Esse crescimento é mais do que o dobro da expansão do total de empréstimos a pessoas físicas no período (16%).
As renegociações foram acompanhadas por uma significativa melhora nas condições oferecidas pelos bancos para evitar calotes.
Os juros médios cobrados em operações de renegociação de financiamentos despencaram de 50,5% ano ano em dezembro de 2011 para 37% em setembro passado.
Com isso, a taxa é hoje menos da metade que os 82,1% cobrados no crédito pessoal não consignado. O prazo médio em dívidas renegociadas saltou de 27 para 34 meses.
"Os bancos têm interesse em renegociar. Para eles, essa saída é melhor do que ter de registrar o prejuízo em caso de calote", afirma Luis Miguel Santacreu, analista da Austin Ratings.
Mesmo com condições mais favoráveis, o nível de calote nos empréstimos renegociadas é alto e aumentou desde o início de 2012 -na contramão do ocorrido com outras categorias de crédito.
A inadimplência no crédito a pessoas físicas renegociado era de 21,6% em setembro contra uma média geral de 7%
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