Ao se examinar a história econômica brasileira, observa-se um fato estilizado muito bem definido: os indicadores sociais são sensíveis aos ciclos econômicos.
Melhoram durante períodos de aceleração e pioram com a desaceleração do crescimento. Mas, muito mais relevante do que a sensibilidade, é a reação assimétrica desses indicadores aos movimentos da economia.
A taxa de crescimento do índice de Gini -que mede a concentração da renda-, por exemplo, tende a piorar muito mais durante períodos de desaceleração do que a melhorar durante fases de aceleração do crescimento.
Como consequência, a concentração da renda se deteriora rapidamente na estagnação, mas cai lentamente durante recuperações.
Situação semelhante ocorre com a participação do jovem no mercado de trabalho, taxa de desemprego, nível pobreza, dentre outros.
Essa relação assimétrica ajuda a explicar por que vários indicadores sociais avançaram vagarosamente nas últimas décadas e está por trás da distribuição da renda bastante desigual no Brasil.
Mas, nos últimos dez anos, a relação entre ciclo econômico e indicadores sociais parece ter escapado a esse padrão. Durante os anos de elevado crescimento (2004-2010), os indicadores sociais melhoraram substancialmente e a pobreza encolheu como nunca.
Quando o crescimento arrefeceu (2011-2013), os indicadores seguiram melhorando, mas mais modestamente.
Sabemos que entre os vários fatores por trás da melhoria das condições sociais no período recente estão programas de transferência de renda, expansão e acesso ao crédito e o substancial aumento real do salário mínimo.
A transformação demográfica também é um elemento fundamental para explicar a queda do desemprego e o aumento do salário real médio nos últimos anos.
Parodiando o título do filme de Elio Petri, teria a classe operária chegado ao paraíso? É cedo para se responder.
O que importa é saber se os fatores que impulsionaram as melhorias de condição de vida serão capazes de, sozinhos, sustentar e continuar expandindo as conquistas. É provável que não.
Em uma economia cada vez mais integrada à mundial, as conquistas sociais dependem da competitividade e da capacidade de atração de investimentos. Por isso, a melhoria estará condicionada aos avanços de variáveis críticas ao aumento do crescimento sustentado, como produtividade, infraestrutura e capital humano, que têm melhorado a um ritmo lento.
A contenção da inflação é outra condição importante, uma vez que grupos mais vulneráveis são os mais expostos a seus efeitos deletérios.
JORGE ARBACHE é professor de economia da Universidade de Brasília e assessor econômico do BNDES
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