Ministério Público fez um
raio X do Primeiro Comando da Capital e pediu à Justiça a internação de 32
chefes no Regime Disciplinar Diferenciado
Paulo Liebert/Estadão
"Marcola criou 'conselho de administração' para o crime"
AI ESTA O HOMEM MAIS PERIGOSO DO PCC |
Depois de três anos e meio de investigação, o
Ministério Público Estadual (MPE) de São Paulo concluiu o maior mapeamento da
história do crime organizado no País, com um raio X do Primeiro Comando da
Capital (PCC). Por fim, denunciou 175 acusados e pediu à Justiça a internação
de 32 presos no Regime Disciplinar Diferenciado - entre eles, toda a cúpula,
hoje detida em Presidente Venceslau.
As provas reunidas pelos promotores do Grupo Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) permitiram a construção de um retrato inédito e profundo da maior facção criminosa do País. Os promotores reuniram escutas, documentos, depoimentos de testemunhas e informações sobre apreensões de centenas de quilos de drogas e de armas. O Estado teve acesso aos documentos e a milhares de áudios que formam o maior arquivo até hoje reunido sobre o grupo.
O MPE flagrou toda a cúpula da facção em uma rotina
interminável de crimes. Ela ordena assassinatos, encomenda armas e toneladas de
cocaína e maconha. Há planos de resgate de presos e de atentados contra
policiais militares e autoridades. O bando faz lobby e planeja desembarcar na
política.
Presente em 22 Estados do País e em três países
(Brasil, Bolívia e Paraguai), a "Família" domina 90% dos presídios de
São Paulo. Fatura cerca de R$ 8 milhões por mês com o tráfico de drogas e
outros R$ 2 milhões com sua loteria e com as contribuições feitas por
integrantes - o faturamento anual de R$ 120 milhões a colocaria entre as 1.150
maiores empresas do País, segundo o volume de vendas. Esse número não inclui os
negócios particulares dos integrantes, o que pode fazer o total arrecadado por
criminosos dobrar.
A principal atividade desenvolvida pela facção é
tráfico de drogas. Chamado de Progresso, prevê ações no atacado e no varejo. No
último, a facção reunia centenas de pontos de venda espalhados pelo País. Eles
são chamados de "FM". No caso da cocaína, os bandidos mantêm um
produto de primeira linha, o "100%" e o "ML", que é a droga
batizada, de segunda linha. A maconha é designada nas conversas com o nome de
Bob Esponja. A droga do PCC vem do Paraguai e da Bolívia. Os três principais
fornecedores de drogas para o PCC seriam o traficante paraguaio Carlos Antonio
Caballero, o Capilo, e os brasileiros Claudio Marcos Almeida, o Django, Rodrigo
Felício, o Tiquinho, e Wilson Roberto Cuba, o Rabugento.
Arsenal. O bando tem um arsenal de uma centena de
fuzis em uma reserva de armas e R$ 7 milhões enterrados em partes iguais em
sete imóveis comprados pela facção. Ao todo, o grupo tem 6 mil integrantes
atrás das grades e 1,6 mil em liberdade em São Paulo. Esse número sobe para
3.582 em outros Estados - somando os membros ativos e inativos, além dos
punidos e os que não têm mais cargos ou participação em atividades mantidas
pela facção.
A denúncia do MPE foi assinada por 23 promotores de
Justiça de todos os Gaecos de São Paulo. O MPE fez ainda um pedido à Justiça de
que seja decretada prisão preventiva de 112 dos acusados. Todos os suspeitos
listados pelo MPE foram flagrados conversando em telefones celulares,
encomendando centenas de quilos de cocaína, toneladas de maconha, fuzis,
pistolas, lança-granadas e determinando a morte de desafetos, traidores e
suspeitos de terem desviado dinheiro da Família. Deixam, assim, claro que atuam
segundo o princípio de que "o crime fortalece o crime". Dezenas de
telefonemas relatando pagamento de propinas, principalmente a policiais civis,
mas também a PMs, fazem parte da investigação.
A Justiça de Presidente Prudente se negou a
decretar a prisão de todos os acusados, sob o argumento de que seria necessário
analisar mais detidamente as acusações. O mesmo argumento foi usado pela Vara
das Execuções Criminais, que indeferiu o pedido de liminar feito pelo MPE para
internar toda a cúpula da facção no RDD da Penitenciária de Segurança Máxima de
Presidente Bernardes. O juiz Tiago Papaterra decidiu verificar caso a caso a
situação dos detentos, antes de interná-los.
Comentários
Postar um comentário